MARCO Aurélio Siqueira
Radialista, Jornalista e Poeta
Aenergia elétrica está presente na vida das pessoas em todas as áreas, seja na vida doméstica, no trabalho e nas atividades produtivas. Indústria, comércio, serviços, agricultura, ciência e tecnologia necessitam dessa matriz energética considerada essencial e estratégica para qualquer país. A privatização do setor elétrico se mostrou um fracasso em vários países do mundo como EUA, Alemanha e França. Esses países estão retomando o controle estatal dos seus parques geradores de energia justamente porque ao entregá-los ao setor privado o resultado foi o aumento das tarifas e queda na qualidade dos serviços. Isso decorre do fato das empresas privadas que assumiram o setor nesses países adotarem um modelo que tem como prioridade a maximização dos lucros para os acionistas em detrimento dos interesses e necessidades dos consumidores. Mesmo nos EUA, berço do neoliberalismo e da economia de mercado, 75% da capacidade insta-lada de geração está sob o controle do Estado norte-americano.
A Eletrobras, maior empresa de energia da América Latina
Aqui no Brasil, andando na contramão da tendência mundial, o governo pretende privatizar a Eletrobras, maior empresa de energia da América Latina e uma das maiores do mundo, por US$ 10 bilhões. Este valor conforme levantamento do Ilumina (Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico), é 15 vezes menor que suas concorrentes estrangeiras de igual porte, ou seja, o governo federal quer vender por US$ 10 bilhões (R$ 60 bilhões), uma empresa que vale US$ 150 bilhões, cerca de R$ 760 billhões, ao dólar de hoje.
A Eletrobras tem 12,5 funcionários, 50 GW (gigawats) de capacidade de geração, possui 49 usinas hidrelétricas, 10 termelétricas a gás, óleo e carvão, 43 usinas eólicas e uma usina solar e atende a todo o Brasil. A capacidade de geração de energia pode até dobrar se forem instalados painéis de energia solar nos reservatórios da Eletrobras. Para efeito de comparação, a primeira colocada no ranking de valor de mercado é a NextEra, nos EUA, avaliada em US$ 146 bilhões, que atua no estado da Flórida, com população dez vezes menor que o Brasil e que tem capacidade de geração de 58 GW e 14,9 mil funcionários.
Além da subavaliação absurda, a privatização da Eletrobras é um grave retrocesso ao desenvolvimento socioeconômico, uma vez que a lógica do lucro, orientada pelo setor privado, aumentará o preço de comercialização da energia
Entre 2004 a 2019 a Eletrobras investiu R$ 100 bilhões em sua infraestrutura e obteve um lucro líquido de R$ 31 bilhões entre 2018 e 2020. Esses números demonstram a insanidade na precificação do seu valor de venda pelo governo Bolsonaro. Além da subavaliação absurda, a privatização da Eletrobras é um grave retrocesso ao desenvolvimento socioeconômico, uma vez que a lógica do lucro, orientada pelo setor privado, aumentará o preço de comercialização da energia, deixando de faturar um preço de operação de manutenção baixa, saindo dos atuais 60 reais o megawatt/hora para até 300 reais o megawatt/hora, fazendo com que o país tenha uma tarifa mais cara e uma matriz energética mais suja.
Todos esses números comprovam o que entidades ligadas ao setor de energia, especialistas e estudiosos do assunto vem alertando há muito tempo: a privatização da Eletrobras programada para maio de 2022 representa uma negligência injustificável com um patrimônio público estratégico, com um aumento imediato de até 14% na conta de energia elétrica e que em curto prazo terá consequências catastróficas para a vida dos brasileiros e para o desenvolvimento do país.