CHRIS Hedges
Jornalista
Conderações sobre a hipocrisia da atitude do Ocidente sobre a guerra na Ucrânia costumam elencar as invasões e destruição de outros países pelos EUA-OTAN desde o Afeganistão, em 2001. Mas, a constatação da duplicidade de padrões da parceria EUA-OTAN e a conivência notadamente da União Europeia, pode ser constatada também no atual momento histórico, enquanto a guerra se desenvolve no Leste. O apoio do Ocidente às agressões e crimes de guerra perpetrados pela Arábia Saudita no Iêmen, pela Turquia contra os curdos e por Israel contra os palestinos estão à vista de todos.
Sobre o massacre de Israel contra os palestinos, o último caso emblemático foi o da execução por franco atiradores israelenses da repórter da Al Jazeera Shireen Abu Akleh. Não assistimos na mídia ocidental convencional o mesmo clamor direcionados aos acontecimentos no Leste europeu.
O mundo está dividido entre vítimas que importam e vítimas que não importam, aqueles que merecem a nossa compaixão e apoio, e aqueles que não o merecem
“O assassinato de Abu Akleh teria sido trado de maneira muito diferente se ela tivesse sido morta por soldados russos na Ucrânia. Não haveria equívocos sobre quem executou o crime. A morte dela teria sido denunciada como um crime de guerra. Ninguém teria aquiescido de deixar os militares russos fazerem a investigação.
O mundo está dividido entre vítimas que importam e vítimas que não importam, aqueles que merecem a nossa compaixão e apoio, e aqueles que não o merecem. Os ucranianos são brancos e na sua maioria cristãos. Nós [os estadunidenses] vemos a luta contra os ocupantes russos como uma batalha pela liberdade e pela democracia. Nós [os EUA] fornecemos US$ 40 bilhões em armas e ajuda humanitária [à Ucrânia]. Nós impomos sanções punitivas sobre Moscou. Nós assumimos a causa ucraniana como nossa.
Os crimes de guerra cometidos por Israel permanecem impunes
A luta de 55 anos de duração dos palestinos por liberdade não é menos justa, nem menos merecedora do nosso apoio. Mas os palestinos são ocupados pelo nosso aliado Israel.
Eles [os palestinos] não são brancos. A maioria não são cristãos, apesar que Abu Akleh era cristã. Eles não considerados como merecedores. Eles sofrem e morrem sozinhos. Os crimes de guerra executados por Israel permanecem ignorados e impunes.
Os palestinos recusam-se obstinadamente a desistir. Isto os torna tão heróicos, e talvez mais heróicos, do que os combatentes ucranianos. Nós [os EUA] estamos do lado errado na história em Israel. O sangue de Abu Akleh está nas nossas mãos”. Esse é um trecho do longo artigo escrito pelo jornalista Chris Hedges, indicado a seguir.
Israel, que mata a tiros centenas de palestinos por ano
A execução israelense da repórter da Al Jazeera Shireen Abu Akleh “Israel, que mata a tiros centenas de palestinos por ano, inclui rotineiramente repórteres e fotógrafos nas suas listas de alvos”
HIREEN ABU AKLEH – a reporter da Al Jazeera com mais de duas décadas de experiência cobrindo conflitos armados – conhecia o protocolo. Ela e outros repórteres permaneceram ao aberto [visíveis e identificados como imprensa] na última quarta-feira, visíveis aos franco-atiradores israelenses que estavam num prédio a menos de 200 metros (650 pés). O colete à prova de balas dela e o seu capacete estavam marcados com a palavra “PRESS” [imprensa].
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CHRIS Hedges, jornalista vencedor do Pulitzer Prize, foi correspondente estrangeiro do New York Times, trabalhou para o The Dallas Morning News, The Christian Science Monitor e NPR